Términos são como bombas atômicas jogadas lá de cima mirando nenhum outro alvo que não a tranquilidade dos dias que pontuam a vida da gente.
De uma hora pra outra, temos que reaprender a ser só. Andar sozinho na rua parece menos confortável do que quando se tinha um braço para se entrelaçar. Sentar para um café e folhear o jornal soa como fuga, não parece tão natural como era ao lado do ex-par.
Mal sabemos que sim, podemos continuar a bebericar e ler porque não... de fato, ninguém está prestando atenção na gente. O desconforto e a perseguição vêm de dentro.
Porque estar ali sozinho sentado, sozinho, assina o atestado de estar ali sozinho. Sozinho. Só, zinho. Pobre zinho. Zinho não se lembra mais como era gostosa a sua própria companhia. Zinho pensa que quem ali passa tem visão raio-x infra-vermelha e consegue enxergar o seu cotovelo doendo, seu coração apertado e o incômodo que a sua única presença na mesa lhe causa. Relaxa, Zinho, você só tem que reaprender a ser só: junto.
Se atentássemos mais para a necessidade e a importância de cultivarmos momentos de solidão e de individualidade; se apreciássemos mais a nossa própria ilustre companhia quando vivemos o amor, não sentiríamos tanta dificuldade de reencontramo-nos quando um relacionamento acaba.
O casamento, o namoro, a ficância podem até ruir, mas seus interesses remanescerão intactos: seus hobbies, suas contas, seus compromissos; seu cachorro que precisa fazer xixi de manhã, sua hora no salão para fofocar e se embelezar, sua reunião que lhe renderá lipídios extras no salário mensal, seguida de happy hour divertido com direito a brinde dos amigos, em reconhecimento ao seu sucesso!
Os hábitos diários permaneceriam regados, pronto para serem cultivados; os amigos permaneceriam presentes, não apenas meros nomes listados na poeira do esquecido caderninho de telefone. Você terá saído de uma baque amoroso, mas sua vida estará lá, te esperando cheia de afazeres, agenda lotada, tudo para que você sinta menos dor quanto for possível e recupere-se das feridas deixadas pelo fim daquilo que um dia você acreditava ser para sempre.
Mas não. A maioria quando ama tende a ficar entocada em casa curtindo o seu amor. A maioria quando ama tende a deixar de lado as atividades que costumava desenvolver antes de se apaixonar. A maioria quando ama, esquece-se de agradar a si mesmo, afagar a auto-estima, manter-se interessante e atraente para aquele que, um dia, se apaixonou pelo frescor de suas idéias, pela audácia dos seus atos, pela originalidade de suas palavras.
Quando deu por si mesma, a maioria se viu engolida pela despersonalização que o ser casal costuma causar. Perigo que ronda os melhores casais da redondeza. E os piores também. Perigo que ronda. Como para todo perigo existe uma precaução, nunca é demais atentarmos para o fato de que amar a si mesmo e ao outro é possível; cultivar seus interesses e outros em comum é possível; programas separados são saudáveis e, salvo exceções sem-vergonhas, nem de longe significam descaso ou egoísmo.
Doação de 100% do patrimônio é proibida até pelo Código Civil, então nada de sair doando o conteúdo integral de sua existência a relacionamento algum. Quem sabe disso é feliz. Quem aplica então...
Na vida, quem aprende a aliar o amor próprio ao amor eterno enquanto dure; o chopp amigo ao vinho romântico; a leitura em silêncio ao debate acalorado sobre o programa na tevê que viram juntos; os momentos de ser só aos momentos de ser junto, respeitando os momentos de ser só, seus e do outro, tem grandes chances de viver mais uma longa história de amor como as das telas de ficção.
Uma história de amor linda, louca e apaixonante, só que melhor: em Hollywood, os roteiros açucarados não ensinam a ser só. Na vida de verdade, se você aprendeu a ser só enquanto estava junto, ser sozinho novamente, se a vida impuser, não será tarefa a ser tirada de letra, mas, muito provavelmente, doerá menos.
Fica a dica!
9 comentários:
Seu blog está excelente adorei as postagens em destaque. Feliz Páscoa!!
Seja bem vinda, Jake!
Feliz Páscoa pra ti também!
Amei, querida!! especialmente pq amo estar acompanhada( amigos, alguem especial) mas muitas enão quero trocar nada disso por um bom dvd sozinha na minha casa, por um jantar sozinha num restaurante bacana, lendo uma boa revista, um bom livro... enfim, comigo mesma!
os estudos de piano, as aulas de teatro, as viagens programadas, acontecerão: sozinha, acompanhada, levando pé na bunda ou nao(rs), amei mesmo seu texto.
olá,
adoro os seu blog me sinto a vontade com cada assunto.E o de hoje é a mais pura verdade.... sabemos de tantas coisas , mas infelizmente nao praticamos , daí vem o sofrimento.
bjo grande!
Feliz Páscoa pra ti .
Quando fiz a pesquisa sobre o assunto que vc sabe qual, achei seu Blog muito original e os assuntos muito bem colocados. Mas essa sua nova postagem, pra mim, foi a melhor até agora. Ainda acho que vc poderia muito bem escrever um livro. Parabéns mais uma vez.
Do seu amigo Lobo.
Dica boa para o amor durar mais.
Adorei ler o post!
Estou adorando o blog,tb sou uma mulher de 30 e tb estou fazendo meu blog,rs...sejam bem vindos!
Gennnnnnnnnnnte que ótimo!
Adorei essa abordagem do "ser só"! É muito importante aprender enquanto tá junto, mas, estando junto queremos "viver" e aproveitar o máximo, esquecendo que a vida é feita de momentos, momentos que nem sempre é prá "sempre" como gostaríamos, e de repente nos vemos começando de novo, reaprendendo a aproveitar só.
Reaprender a ser só é a parte mais difícil mesmo, é preciso realmente aprender enquanto está junto!
bjs
Lindo texto! Concordo com tudo. Beijão
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