quinta-feira, junho 17, 2010

Duas Décadas...

Quem nunca sentou no chão e abriu aquela caixa enorme, cheia de fotos, cartas, bilhetes, anotações ou apenas cheia de memórias da sua adolescência? Quem nunca traçou um paralelo com o que pensa agora e o que pensava naquela época, com o que planejava aos 15 anos e o que efetivamente aconteceu? Que atire a primeira pedra! [ou que atire a primeira agenda, daquelas bem pesadas...].

Aos quinze, toda adolescente que se preze, questiona o governo, a sociedade, a família, a sua sombra [afinal o negócio é questionar e dar sua opinião, sempre tão valiosa aos olhos adolescentes cheios de razão]. É a fase das convicções.

A convicção dos quinze anos é tão forte... "Farei assim, farei aquilo, serei isso, serei aquilo e nada me impedirá!". Tudo é tão pra ontem, que o imediatismo fica latejando, e o sofrimento toma proporções exageradas. Sempre magras demais ou gordas demais, sofríamos demais, chorávamos demais e ríamos com a mesma freqüência - podendo misturar os sentimentos e tudo acontecer ao mesmo tempo até - sem falar nas dúvidas quanto à profissão a ser escolhida [e nem pensávamos no possível arrependimento das nossas escolhas futuramente]. Escolher o que fazer para o resto da vida na instabilidade emocional dos meus quinze, dezesseis anos! Ai ai ai...

Enxergamos nas meninas de quinze anos o mesmo que fomos, com as variações da época, claro. Os traços peculiares da idade, como a descoberta, o exagero, o olhar absoluto, estão e sempre estarão presentes numa menina de quinze [ menina? Achávamos ou não achávamos que éramos mulheres prontas para a vida ?] Quinze anos depois, muito ainda é igual.

É inevitável não sentir um certo conforto na casa de trinta e cinco anos ao topar com a ansiedade e o medo de passar no vestibular, de perder a virgindade com o namoradinho do colégio, de viajar a primeira vez sozinha, e suspirar aliviada por saber que isso incomodou um dia mas passou. Achar graça por conseguir enxergar hoje que todo o turbilhão de emoções e de idéias passa em algum momento. Passa para dar lugar a outro turbilhão de emoções e idéias novas - mas tudo bem.

Ao conversar com uma menina de quinze anos enxergamos que os problemas mais sérios na vida dela, a gente também teve. Também achou que o mundo ia acabar porque tinha levado uma mega bronca em casa e ficou um mês sem sair, ou porque levou uma rasteira daquela criatura que você considerava sua melhor amiga [que ao final, você agradece à vida por ter tirado a infeliz invejosa do seu caminho].

As dúvidas lá dos quinze, foram substituídas por outras, nos dando uma imensa tranquilidade pois, se os problemas e dúvidas dos quinze se foram, oba!, os problemas e dúvidas dos trinta e cinco já, já, arrumarão suas malas para partir das nossas vidas, dando lugar aos questionamentos dos 40, muito provavelmente. Crescemos.

Crescemos sim. Uns de forma mais branda, outros de forma mais dolorosa, cada um teve seu processo e, hoje, inaugura outros novos. É bom demais saber que passados quase vinte anos, a gente começa a enxergar que nada é pra ontem, ninguém nesse mundo nasceu sob o manto da perfeição, tudo se torna mais flexível, mais relativo, as preocupações são outras e as nossas escolhas, feitas lá na adolescência ou nos vinte e poucos anos acabam fazendo parte do que somos, do que aprendemos a chamar de vida, fazem parte da nossa identidade, e se essas escolhas foram certas ou erradas, só o balanço dos próximos quinze anos irá nos dizer.

Cá entre nós, confesso que ainda me pego rindo e chorando, chorando e sorrindo, gargalhando até quando revejo minhas caixas arquivadas. Tudo ao mesmo tempo. Ainda bem.

6 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Labelle, tenho uma amiga da minha idade com uma sobrinha adolescente, é muito engraçado como ela se stressa com as atitudes da sobrinha, mas, que na realidade não faz nada além do que ela fez kkkk
Eu, na minha casa de 30 me sinto muito feliz com as convicções que formei a partir dos 15, tmb me sinto confortável por não ter que dá satisfação que fiz isso ou aquilo, ou que me saí bem ou mal, mas, confesso que gostaria de voltar uns 10 anos e mudar algumas coisas.

bjs, ótimo texto!

Anônimo disse...

Amei seu texto. Por muitas vezes fiquei remoendo meu passado de adolescente, me lamentando, e hoje penso que isso é bobage, pois como vc disse, as escolhas do passado( mesmo que vc tenha errado) fazem de vc a pessoa que vc é hoje.( e hoje me sinto muitto melhor, mais feliz).
Já pensei em abrir um post falando sobre isso, mas eu jamais conseguiria sintetizar tão bem como vc, sem abrir minha vida pessoal exageradamente, então amei seu texto pq vc consegue resumir o pensamento sem escancarar demais.
E meus 15 anos, vou te falar, viu?? Não dá saudade nenhuma, foi bem trash, mas pelo menos fico feliz por quilo tudo ter ficado lá atrás... no passado! :P
beijos

Labelle® Paz disse...

Eu nem sou saudosista, mas volta e meia fico pensando em como as coisas podiam ter tomado outro rumo...... Outro dia, reparei que eu guardava todas as agendas [dos meus 11 anos aos 16] mas pra quê? Ainda não tive coragem de me desfazer delas, mas provavelmente isso não vai demorar...

Anônimo disse...

Labelle, as agendas de 15 e poucos anos eu devo ter jogadohá muito tempo... kkkkkk
foi tão ruim que só deletando mesmo... rsrsr
***uma exceção pra agenda que fiz no ano 93, quando entrei pra faculdade, entre 18 e 19 anos... aquela foi uma fase linda... mas perdi a agenda...
a ultima que tentei fazer foi em 96, com quase 22 anos... mas escrevi tanta baboseira nela, e o ano foi táo ruim, que a ultima anotação( lembro bem), foi dia 15 de março, dia que aconteceu um fato ruim. depois disso, joguei fora.
Tive dos 17 aos 25 anos um caderno onde eu costumava escrever sobre meus sonhos, minhas alegrias, tristezas ou angustias. Mas ao contrario da agenda, as amigas não tinham acesso. só eu podia ler meu caderno... :P e em 2000, com quase 26 anos... num acesso de 5 minutos de raiva,simplesmente queimei o caderno, acredita??? rsrsrs não tenho saudades dele. só serviu pra eu falar de coisa ruim, por isso mesmo deletei e queimei sem dó. acho que só interessaria a um psicólogo, se quisesse estudar os delírios de uma adolescente sem noção... rsrsr
beijos:)

Labelle® Paz disse...

Val, você é impagável !! Como a adolescência nos deixa dramáticas e impulsivas, não é mesmo? Paro pra pensar e fiz tantaaaas coisas sem noção, que só achando graça mesmo. Acho que todas as adolescentes são muito parecidas, só mudam de endereço. Na nossa época, não poderia ser diferente... [risos]

RWL disse...

É bastante curioso essa coisa de voltar no passado e imaginar como seria se tivessemos feito "A" ao invés "B", quem sabe talvez "C". Não importa, esses pensamentos constantemente nos assombram, e me pego dando conselhos ao meu sobrinho de 16 anos, dizendo principalmente para não cometer certos erros, que na verdade refletem meu passado. Talvez seja necessário que cada um passe por esses dilemas e dúvidas, como parte do curso natural da vida. No final, o que passou passou, e agora é olhar para frente e fazer o nosso melhor.

Beijos!!!