É de praxe desculpar-nos com os visitantes (sinceramente ou não) assim como se pergunta "tudo bem com você?" - mesmo que não haja um real interesse em saber.
Como a frase é mais um hábito, às vezes soa meio imprópria. "Não repare na bagunça" é um dos pilares do nosso protocolo caseiro ( será que em outros países também é assim?).
Certa vez fui a uma reunião de trabalho na casa de um colega da equipe, e o que espantava ali era a ordem: ele tinha pouquíssimos móveis, só os essenciais. O piso de madeira era visível na maior parte do ambiente, já que mal haviam tapetes. As paredes brancas tinham poucos quadros, as janelas não tinham cortinas. E sobre a mesa quadrada em um canto da sala, apenas dois envelopes fechados de correspondência recente. Ah, essa era a bagunça....
Já na minha casa, não faz sentido dizer: "não repare", porque é impossível. A bagunça é tanta que o visitante é obrigado a reparar, ou corre o risco de tropeçar nela e ser soterrado. Tudo bem que eu sou um pouco exagerada, mas de qualquer forma, tem bagunça! Pilhas e pilhas ( e mais pilhas) de jornais e revistas, papéis de todos os tipos, caixas repletas de fitas de vídeo, dvds, torres de fitas cassetes, caixas de disquetes, cds, roupas, bolsas, sapatos, fotos, mais revistas, uma porção de móveis, plantas, enfeites, livros, mais fotos, etc.
Não queria que fosse assim. A casa da minha mãe era igualmente bagunçada quando eu era pequena, a gente tinha cachorro, tartaruga, passarinhos, e eu planejava fazer diferente quando tivesse minha própria casa. Mas a força dos genes não permitiu ( boa desculpa!). Hoje em dia, sem crianças, a casa dos meus pais é um brinco. Quero ver quando chegarem os netos...
Minha mãe costumava brincar que, se um ladrão entrasse e visse a casa revirada daquele jeito, ia pensar: " Xi, já assaltaram". E eu, sinceramente, gostava de ordem, tanto que volta e meia tirava o dia para arrumar tudo do zero - esvaziando gavetas e prateleiras, reodernando e classificando tudo. Era uma arrumação profunda, não uma ajeitada superficial. Até hoje tenho desejos de fazer algo parecido, e é aí que mora o perigo. Ou sendo menos dramática, esse é um dos motivos pelos quais não consigo arrumar nada.
Mas a bagunça tem muitos motivos. Em primeiro lugar a minha dificuldade em assimilar essa transição da vida de solteira à de casada + o fato de sair da casa dos meus pais para morar na minha casa. Costumo doar tudo o que não uso com frequencia, mas papéis, revistas e livros eu tenho uma dificuldade enorme. Ou porque acho que elas podem ser importantes algum dia para mim ou alguém mais, ou porque não quero gerar muito lixo ( reaproveitar é fundamental!). Outro problema é que eu conheço a bagunça muito bem e já me acostumei a localizar alguns ítens em seu lugar fora-do-comum. Além disso, sempre tenho outras coisas importantes e mais urgentes para fazer, que me impedem de tocar aquela operação-limpeza.
Mas nos últimos tempos evoluí em um ponto: não fico me torturando. Sim, a bagunça é horrível, opressiva, às vezes, contraproducente. Mas é o seguinte: ou se arruma ou se vive com ela. Que adianta passar dias pensando: "preciso arrumar, preciso arrumar" ? Querendo que tudo suma ou se ajeite sozinho, que a casa seja maior ou que tenha mais tempo....?
Admiro casas arrumadas, mas começo a desconfiar que a minha nunca vai ser uma delas. Quando chega o dia X, livre de compromissos, que eu esperei tanto e que poderia ser o dia da arrumação, eu acabo saindo com meu marido, com meus afilhados, amigos e outros programas fora de casa. Como me privar desse tempo vago para focar na faxina? E assim, vamos indo, até o dia em que nós todos possamos passar uma tarde divertida arrumando tudo juntos. Enquanto não acontece......... Pode reparar a bagunça, e desculpe qualquer coisa!
Um comentário:
é duro, menina
vc VAI encontrar caixas ainda não abertas da mudança em meu quarto...temos seis a desbravar ainda...rs
bem, o que me espanta mesmo é sua capacidade produtiva de texto...menina, como vc escreve...rs
besitos
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