Sempre me preocupei em evitar o consumo excessivo de energia. Sigo todas as dicas para gastar menos gás, eletricidade, água e gasolina. Chego até a optar pelo uso da escada em vez de usar o elevador ( que também aproveito para dar uma tonificada nas pernocas e na minha saúde). Por outro lado, descobri que desperdiço muita energia pessoal - costumo remoer mi vezes alguma coisa que fiz e disse ou deixei de fazer e dizer. Um tremendo sofrimento inútil, consumo brutal da vitalidade.
Sei que existe o sofrimento útil, com a qual podemos aprender várias lições. Quando você sofre, pode refletir sobre o que causou aquela dor e tomar resoluções firmes para não voltar a cometer os erros. Enfim, como tudo que nos é ensinado, só funciona se nós realmente aprendermos. E o modo mais verdadeiro de compreender uma dor é senti-la na própria pele. Quantas pessoas não passaram a se dedicar a uma causa depois de uma experiência difícil?
É besteira assistir mil vezes ao mesmo filme e ficar desejando que o final fosse diferente. Questionamentos do tipo: "Por que eu não fui embora antes? Por que não respondi o que ele me disse? Por que não calei a minha boca?" são pura perda de tempo. Não adianta se lamentar pelo que já aconteceu. A única possibilidade é mudar o roteiro do próximo filme, com muita atenção às palavras ainda não ditas, às ações por realizar.
Outro dia tive com clareza esse insight - de quanto é inútil se torturar pelo que passou e não tem volta. Na alta madrugada, apagando as luzes da sala antes de dormir, não sei por que me imaginei tropeçando e derrubando alguma coisa de valor. Naquele momento tive a convicção de que eu seria capaz de dizer simplesmente para o meu marido: " Você não sabe a besteira que eu fiz, quebrei o computador!" E ele diria: "Amanhã a gente procura alguém que conserte."
Isso nunca aconteceria na vida real. Eu ficaria furiosa, revoltada, inconformada com meu jeito estabanado e com todo o dinheiro jogado fora, o tempo gasto e os arquivos perdidos. E o que eu ganharia com essa raiva toda? Rigorosamente nada. Mas ficar calma pareceria até irresponsabilidade; eu jamais aceitaria a minha tranquilidade perante uma coisa dessas.
No mesmo dia em que eu pensava sobre essa perda inútil de energia, tive uma lição fantástica sobre como lidar com o inexorável. A professora que perdeu as pernas no acidente de lancha aqui no RJ deu uma entrevista ao sair do hospital. "Como vai ser sua vida a partir de agora?" Com a maior naturalidade, respondeu: "Normal! O médico me deu duas próteses e eu vou aprender a usar. Pelo menos estou viva!"
E eu, na minha intolerância momentânea, não conseguia admitir o meu aborrecimento ao quebrar o computador... O que passou, passou. Me aborrecer para quê? Mudemos daqui para frente!
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