Cheguei em casa, tranquei a porta, tirei os sapatos pelo caminho e me dirigi até a secretária eletrônica para escutar recados. Quatro. Os quatro da mesma pessoa. No primeiro, ela dizia: " Tiago, eu te amo, se você não atender este telefone agora, eu vou me matar!". Percebo que Tiago não atendeu ao apelo da menina porque ela, logo em seguida, ligou novamente. Nesse recado, ela não falou quase nada... Só disse: " Imagino que você esteja ocupado nesse momento, ligarei depois". Aff... Ela ligou mais uma vez, sua respisração ficou gravada na secretária eletrônica e desligou. Na última tentativa, o recado revelou um suspiro forte e profundo, seguido da seguinte frase: " Tudo bem, Tiago, você venceu. Tchau. Adeus".
Eu, que não me chamo Tiago, fico ali consternada eouvindo, inúmeras vezes, o sofrimento daquela menina. Eu, que não tenho primos, irmãos, cunhados, marido, ex-namorados, nem vizinhos que se chamam Tiago, me ponho a pensar em como terá sido a história de amor que envolveu tanto aquela garota, a ponto de utilizar a própria vida como moeda de barganha por alguns momentos ao telefone com seu amado. Meu pai não se chama Tiago, nem meu avô, nem o porteiro do prédio. Conclusão: o recado não era para ninguém na minha casa MESMO.
E então, especulo, novamente. E se aquela menina realmente fez o que disse? E se ela acabou com a própria vida por não ter falado com o seu adorado Tiago, sem sequer imaginar que ligou para o número errado?
E se Tiago se arrependesse de tudo? Se saísse procurando por ela pela cidade, chegasse à casa em que ela morava, desse de cara com os preparativos para o seu velório, e a mãe dela chorando sobre o caixão revestido de cetim brilhante, coberto de velas derretidas e flores murchas, e o pai dela, desolado, querendo esganar o pivô de toda aquela tragédia mexicana?
Pobre Tiago... Pobre garota... Romeu e Julieta do século XXI, em que o veneno letal atende pelo nome da companhia telefônica local. Totalmente sem graça, totalmente sem charme. Mas que dá uma sensação esquisita, um aperto no peito, ouvir um recado desse, ah, dá.
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