quinta-feira, dezembro 22, 2011

Manteigas Derretidas...

... mas não nos passem no pão quentinho..

Escuto uma música. Fico emocionada, meus olhos se enchem e não suportam o volume d'água. Transbordam em seguida..

Se topo com uma criança ou um deficiente vendendo balas no sinal, transbordam. Se te olho nos olhos, transbordam de novo. Matéria nos jornais homenageando aquele ator de noventa anos de quem ninguém mais se lembra? Transbordam também.

Tem dias que transbordo, e não caibo em mim. De tanta saudade, de tanta felicidade, de tristeza sem motivo ou de tristeza motivada.

Determinadas épocas propiciam o choro, concordo. Pode ser uma despedida, ainda que breve seja o reencontro. Pode ser o dia das mães pra quem não tem uma. Pode ser o dia dos pais pra quem não o tem mais. Pode ser o dia dos namorados para quem o cotovelo dói. Pode ser o Natal, pode ser o Ano Novo.

Pode ser uma vitória, pode ser um beijo apaixonado. Um colo, uma TPM que chega sem avisar ou que avisa semanas e semanas antes, através desse código lacrimal intenso..

Pode ser um ganho sonhado em anos, ou uma perda irreparável. Choramos por muitos motivos. Uns mais, outros menos. Uns se escondem e não admitem ser vistos. Outros choram quase que pedindo atenção..

Há aqueles que riem do próprio choro e não compreendem porque estão chorando. Se estão rindo, deduz-se que choram por algo bom, ou não haveria lugar para o riso. Conheço gente que chora de nervoso... Gente que, diante de uma situação preta, ri quando não sabe se ri ou se chora, e acaba optando pelo primeiro. Ou pelos dois.

Dizem que chorar faz bem, que lava a alma, que põe os demônios pra fora. Pode ser, não sei... Pode ser engraçado, pode ser doloroso, mas passa, ô se passa...

Enquanto não acontece, respeitemos o momento. O nosso e o alheio.

Derreta você, derreto eu, derretamos nós, manteigas desse mundo! E que nenhum estraga prazer venha com a faca e o pão quentinho nas mãos para abafar esse nosso momento de faxina interna.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Príncipes e Princesas Amarelos..

Desistir nem sempre é um ato covarde. Pode ser uma demostração de sabedoria: identificar a hora de parar de doar esforços e energia em projetos que não atendem mais os nossos desejos. Ninguém precisa dar murro em ponta de faca durante anos para, enfim, compreender que uma postura, uma situação, uma profissão ou uma pessoa não lhe faz bem. Pode simplesmente reconhecer o incômodo, descartá-lo e partir para outra, numa nice, embora muitos sejam adeptos do método empírico "só levando muito na vida para aprender". Também válido, porém [bem] dolorido.

Desistir então, pode ser uma retirada estratégica. Pode representar um sono profundo daquela opção que não se quer mais e coloca-se para dormir, priorizando outras escolhas. Até aí, tudo bem. A situação fica delicada e mais séria, quando a escolha é a de sair por aí desistindo de tudo, e colocando o que for, para dormir: namorados, parentes, amigos. Casa, esposa, marido. Trabalhos, novos projetos, estudos.

Nada prende a atenção. Nada seduz. Desiste-se dos desafios e das pessoas com a mesma facilidade com que troca-se de roupa. Se fulano está incomodando, desiste-se. Se está chateando, desiste-se. Se não-está-te-fazendo-feliz-vinte-e-quatro-horas-por-dia, desiste-se. Nem sempre pedem licença e exigem que todos saiam da frente! Se escondem num mundo paralelo, e o resto que se exploda. De forma descartável, egoísta, e covarde. Alguns se dizem "práticos" por agir assim. Gente prática... Gente prática e tola.

É tolice acreditar que a felicidade vai bater à porta todos os dias, os dias inteirinhos, e em todos os segundos. Quem foi que andou contando esta mentira cabeluda pra você? Quem te enganou? Seus pais, as tias do colégio, os livrinhos de histórias infantis que fazem as pessoas crescerem maravilhadas, sedentas por dias purpurinados, compostos por relacionamentos cor de rosa pink e escritórios verdinhos. Tudo lindo sempre.

E se não forem assim, se estiverem fora dos padrões que foram criados ao longo de todos esses anos, nosso protagonista emburra a cara, desliga o telefone, ofende quem estiver pela frente, ameaça pular pela janela, pede licença da vida novamente, e desfia o rosário de lamentações.

Há questionamentos e queixas saudáveis, que nos tiram da inércia e dão um looping revolucionário na nossa própria história. Há outros, no entanto, que são resquícios de algum complexo mal resolvido, de príncipes e princesas dentro de nós, homens e mulheres, que faz com que queiramos tudo perfeito, e no primeiro sinal de existência de vida real (amém), deixamos a grosseria e a falta de persistência tomarem conta do ambiente.

Levantar e arregassar as mangas de vez em quando não dói. Desistir de tudo o que nos desagrada, como se fôssemos o centro do mundo, é uma ameaça tentadora para algumas pessoas.

Se permitirmos que isso aconteça, seremos, sim, o centro do universo: o centro do universo do eu-sozinho. Do universo do eu involuído. Do universo daquele que passa na rua e é apontado como Amarelão. Aliás, nem será apontado... Porque no universo do Amarelão só tem espaço para ele mesmo. E para o seu umbigo.