segunda-feira, julho 19, 2010

Conversas Terapêuticas...

Conversar serve para passar o tempo. Conversar serve para tirar dúvidas, serve para resolver alguns problemas, serve para obter informações. Mas, acima de tudo isso, conversar serve para o auto-conhecimento.

Quando se tem clareza de idéias e lucidez que possibilitem expor uma sensação incômoda de uma forma precisa; quando se tem um interlocutor que faz as vezes de analista mas é aquele grande amigo querido emprestando-lhe o ombro, os ouvidos e suas experiências de vida; quando se tem essa troca, conversar tranquiliza o espírito, alivia tensões, e faz o perturbado enxergar que não era com ele - todo mundo tem suas crises, seus medos e necessita filtrá-las.

Uns filtram quando mergulham no mar, quando saem de barco, quando furam uma onda. Outros filtram dirigindo na estrada, na velocidade, no deslocamento. Outros ainda, filtram na folha de papel, esboçando, escrevendo, ensaiando. E outros tantos, filtram conversando.

Expor o que sentimos, como sentimos, sem preconceitos, sem receio de ser rotulado, tachado, repreendido, é alternativa que possibilita olharmos para dentro de nós mesmos, enxergarmos o que está incomodando, enxergarmos o que está fora do lugar, o que está cutucando a cabeça e o coração, e tentarmos, compreendendo a razão de todo o incômodo, relativizar a angústia que insiste em aparecer eventualmente.

É muito mais tranquilo passar por tudo isso com a ajuda generosa de um amigo. Aquela terceira pessoa desinteressada que se põe a te ouvir com atenção, com neutralidade. Aquele que reparte com você os receios dele, os medos dele, as inseguranças dele e te faz enxergar que ser humano nenhum é perfeito, nem funciona cem por cento bem.

O ser humano que busca a perfeição nas vinte e quatro horas do dia, pifa na vigésima quinta. Pifar não é vergonha para ninguém... Reconhecer que pifou, menos ainda [embora a sociedade pregue o brilho eterno].

Gente de verdade não tem camada extra de brilho eterno. Gente de verdade costuma brilhar quando corre atrás, quando faz acontecer. E esse brilho todo, vem somado ao suor da conquista e das lágrimas que refletiram quando cairam no percurso. Para essa gente que brilha naturalmente, acordar com o peito apertado, seja por ansiedade, por insegurança ou por medo, é um desafio e um convite à uma boa conversa, a um bom bate-papo esclarecedor.

Se expor, para essa gente, é completamente aceitável. Demonstrar fraqueza é completamente aceitável. Voltar atrás é completamente aceitável. Reconhecer que está mau-humorado, assoberbado, irritado, também é completamente aceitável. Para essa gente que brilha, sentir medo é normal, é natural e não faz deles menos vitoriosos.

Bate-papo que vai, bate-papo que vem, sentimentos que se externam e voltam em forma de palavras de encorajamento: não valorize demais uma sensação ruim. Pra quê viver se culpando? Pra quê remoer acontecimentos doloridos? Não seja negativo, pense no que há de bom. E não se reprima, todo mundo se sente assim de vez em quando.

Nessas horas o que todo mundo quer, é estar do lado de fora e enxergar melhor. Identidade globalizada muito confortante, afinal, ninguém na vida sabe tudo - nem o Aurélio. Conversar com alguém ajuda a enxergar a luz no final do túnel escuro. Pois então, lembre-se de escolher alguém que esteja utilizando óculos cor-de-rosa.

4 comentários:

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Labelle,

experiência própria, conversas são altamente terapêuticas.

Fiz terapia por mais de um ano, toda semana estava eu sentada num divã, contando tudo que me aflingia para um profissional (que me ajudou muuuuuuuuuito), mas, meus amigos, meus grandes amigos foram meus anjos terapêutas. Com eles eu contava minhas dores e chorava meus medos, com eles consegui sair da terapia e terminar meu tratamento.
Foram as conversas que mais me ajudaram a me ver, ver meus problemas, superar meus medos...

Seu texto está perfeito, pois, todos precisamos filtrar nossas crises e que bom as pessoas ao nosso lado para essa conversa terapeútica, que bom.

bjs, adorei o post, adorei!

RWL disse...

Eu sempre achei que quando falava algo ao meu respeito para outra pessoa, era como estar com o peito aberto no meio de um tiroteio, literalmente vulnerável. Não sei se essa é a minha forma de filtrar minhas crises, e principalmente meus medos. Sei apenas que com "a pessoa certa", tudo fica mais fácil. Nesse momento não sinto qualquer tipo de culpa, e principalmente, não me julgo. Nada como ter una "pessoa certa" para esses momentos.

Mais um ótimo post.

Beijão!!!

Lilly disse...

Nossa, que lindo. Eu só temo a cobrança. Tem vezes que a gente conversa achando que a escuta vai ser imparcial mas um tempo depois vem a cobrança. A gente se dá o direito de mudar opinião mas o amigo não. Enfim, nada na vida é perfeito mas é verdade que em muitas situações os amigos ajudam. Na maioria delas.

Beth Blue disse...

Eu conheço muito bem esta estória de se sentir culpado e viver remoendo os erros do passado. É uma das coisas que tenho tentado trabalhar na minha vida (haja terapia).

E juro que eu tento ser positiva e ver sempre o lado bom, mas a minha predisposição genética não ajuda então nunca serei uma Poliana ;-)

Ótimo texto!