quinta-feira, julho 01, 2010

O Bêbado e a Equilibrista no Século XXI

O que dizem por aí é que toda mulher é um bicho complicado. De uns tempos pra cá, o dizem ainda com mais propriedade - já que a ciência se encarregou de gastar um certo tempo em projetos que estudam as informações cromossomiais que cada uma de nós traz dentro do nosso corpitcho. Conclusão que se chegou: as mulheres são geneticamente mais complicadas que os homens. Aff... O que os cientistas querem dizer com isso? Não sei, não sei mesmo, confesso. Mas posso dar um chute [apesar de que hoje, definitivamente, não é dia para falar de chute depois da eliminação da seleção brasileira na copa].

Chutaria que sentir aquele aperto no peito que denuncia que algo está errado, quando, no entanto, tudo parece estar perfeitamente certo é "ser complicada". Então, desencucamos até a próxima encucada (sensação também conhecida por aí como paranóia).

"Ser complicada" é explodir [sem querer] com quem está ao seu lado, talvez por não saber exatamente como lidar com aquele mau-humor que te acompanhou na última manhã. Até reconhecer que todo esse comportamento 'complicado' se trata de um descompasso hormonal, a bola [jabulani?] já foi para fora da linha de campo e nós que fazemos parte do time ficamos lá, na tentativa de fazer a bola voltar para o jogo e tentando explicar para o time todo o por quê do chutão sem propósito algum.

"Ser complicada" é trabalhar das sete da manhã às quatro da tarde, sair para a academia logo depois, ir para casa por volta das sete da noite e, neste meio tempo, encontrar umas horinhas para dar um aperto no marido, levar e pegar filhos na escola, ir ao salão para fazer as unhas, cabelo e depilação, fazer as compras de supermercado semanalmente, aparecer linda e gostosa, leve e perfumada para um jantarzinho romântico, além de se concentrar em toda a atmosfera de sedução, sem gastar os neurônios com a pauta daquela reunião que participará no escritório na manhã seguinte.

"Ser complicada" é fazer tudo isso achando maravilhoso [que sucesso!], mas, ao mesmo tempo, é achar que a mulherada talvez tenha pegado pesado demais nas conquistas realizadas nos últimos anos: ô acúmulo de atividades da p•rra! ["Ser complicada" é concordar com esta última afirmação até, mas não sair por aí assumindo que concorda - afinal, depois de tantos avanços feministas, este discurso Amélia pós-moderno não pegaria bem).

É complicado ter coerência o tempo inteiro. É complicado ter que ser gata, inteligente, bem sucedida, amante insaciável, companheira, determinada, independente e segura: na família e no trabalho. É complicado ser isso tudo ao mesmo tempo, e ainda ser mulher, ser mãe, emanar amor e afeto incondicionais, e ser a melhor na carreira que escolheu. Com certeza não foi previsto lá atrás, que seria tão complicado ser mulher nos dias de hoje. O fato é que é complicado sim. E pronto, disso sabemos.

Faltou a tal pesquisa científica dizer que somos complicadas sim, mas que sabemos descomplicar como ninguém - quando queremos, claro. Talvez assim, entederemos o por quê de 'desopilar' ser um dos verbos mais conjugados.

Não é modismo new age que explica o incenso, a música relaxante e a ioga: é a necessidade atual. Necessidade de equilíbrio na corda-bamba, munidas de sombrinha, tailleur e salto alto com bico fino. E ainda tem a pasta com o notebook! Ahhh, e o celular que acabou de tocar + o caçula dos dois filhos no colo.

Equilibristas como as mulheres atuais... Sei não, mas acredito que ainda estão para existir. E os bêbados que se cuidem, que fiquem atentos e espertos, porque estão prestes, prestes, a serem excluídos da música. O futuro que se aproxima tem homens e mulheres se cobrando 24h/dia e com expectativas a serem supridas idem, se equilibrando juntos na corda-bamba diária. Se assim for, não dou muito tempo para aparecer outra pesquisa científica anunciando o que já sabemos: homens, pasmem, são tão geneticamente complicados quanto nós, mulheres. E isso é fato!

4 comentários:

RWL disse...

O fato mais verdadeiro de tudo isso e dizer que o"ser humano" é complicado. Não acredito nessa conversa de mulher complicada, e de homem problemático, todos nós temos defeitos e virtudes. Não cabe a um certo número de cientistas dizer que o comportamento padrão é esse, que todas as mulheres são assim, e que os homens são assado. É divertido essa guerra dos sexos, ela até apimenta as relações, mas não existe isso de a mulher ser o que falam. no fim, todos possuimos complicações, e temos problemas para resolver. O problema não está com o homem, nem com a mulher, está justamente com quem cria a imagem do problemático. Pensem nisso.


Adorei o Post, mais uma vez!!!


Beijos

Beth Blue disse...

Não só é complicado como a gente não tem a MENOR OBRIGAÇÃO de ser tudo isso. Nenhuma mulher consegue ser tudo ao mesmo tempo (algumas até conseguem fingir bem). Ser mulher afetuosa, amante insaciável, bem-sucedida profissionalmente, criar filhos e ainda manter a casa em ordem...não é pouca coisa não!!!

Aqui na Holanda as mulheres estão se conscientizando cada vez mais disso...embora o processo seja leeeeeeeento e a divisão de tarefas ainda seja muito mais conservadora do que se imagina - ainda mais com a fama de liberal do país (tudo mentira, hehehe).

Enfim, eu acho que um dos piores problemas é a própria mulher que exige tudo isso dela mesma. Enfim, haja perfeccionismo e sentimento de culpa (características femininas).

Diga adeus à super-mulher e seja você mesma. É mais simples do que a gente pensa.

beijos transatlânticos

Márcia de Albuquerque Alves disse...

Oi Labelle!

Menina adorei essa reflexão sobre "sermos complicadas".
Nós mulheres sempre estivemos a frente dos homens (isso é fato). Desde dos tempos mais remotos quando o homem era "o caçador", nós já colhemos, preparamos comida, cuidamos da casa, cuidamos dos filhos, e ainda fazíamos tudo levando os filhos conosco, ou seja, se hoje fazemos mil coisas ao menos tempo é porque lutamos por nosso espaço e somos habilidosas, agora não temos culpa de sermos super né?! kkkkkk
Adorei o texto e considero que não temos nada de complicadas, eles é não estão a altura de nos entender kkkkkkkk
Eitxa fui super feminista agora kkkkk

bjsss

Labelle® Paz disse...

Pois então... nós sabemos que a maior cobrança sim, vem de dentro de cada uma de nós... Desconstruir essa imagem da 'super-mulher' só com muita terapia....risos. Ainda mais quando se é criada desde pequenininha para dar conta de tudo, não depender de marido, e se desdobrar em 1000 para fazer parte do modelo atual. Crises... Crises... e muita ioga para relaxar.