quarta-feira, dezembro 06, 2006

Prisioneiros do medo


Nunca fui assaltada. Graças ao meu anjinho da guarda, que trabalha bastante e à minha boa sorte eu continuo fazendo parte da minoria da população de um grande centro do nosso país.

Mesmo assim, já fiquei em meio a situações complicadas e sinistras onde me senti impotente e assombrada. Cheguei a pensar inúmeras vezes se valia ou não à pena continuar no trabalho que eu havia escolhido para mim (a mais de 100km da minha casa), ou se eu deveria me resguardar e procurar algo mais próximo, onde eu me sentiria menos exposta ao perigo.

Perdi um pouco do prazer de andar nas ruas, de pedalar minha bicicleta, de sair à noite para namorar, de caminhar na praia, me senti ameaçada. Me dei conta do quanto é fácil perder tudo, inclusive a vida de um momento para o outro. Entendi da pior forma, na marra, na pele, os sentimentos que estou vendo proliferar pelo meu país nos últimos anos.

Somos reféns do nosso medo e estamos presos nas nossas casas. Até que ponto estamos seguros? Segurança.... Perigo....... Não tem mais hora nem lugar para se sentir refém nas grandes cidades. Estamos frágeis, e por causa desses sentimentos de impotência, raiva e medo, as ruas da minha cidade ficam cada dia e cada noite mais vazias.

Quem tem um poder aquisitivo mais alto contrata seguranças particulares cada vez mais agressivos e violentos, que se comportam como as únicas autoridades num mundo inseguro. Quem não tem grana para tentar se "proteger", se expõe à nossa realidade.

As pessoas não se olham mais nos olhos... No trânsito, as pessoas ficam de olho nos retrovisores dos carros, e com o coração na mão quando tem que parar em algum sinal de trânsito.

É natural que seja assim... É humano. O grande problema é que não deveria ser natural!!!! Não deveríamos nos preocupar com a nossa segurança e da nossa família enquanto pagamos impostos altos para o estado se preocupar. Medo e raiva são sentimentos racionais e por isso dão a sensação de que são mais fortes do que nós mesmos, irresisíveis e inevitáveis.

Só que viver com medo e com raiva é ruim demais - perigoso. Ruas vazias, seguranças agressivos e pessoas assustadas são uma combinação explosiva. Ou seja, quanto mais medo e mais raiva nós temos por causa do perigo que corremos, mais perigo corremos.

Esse ciclo vicioso não será alimentado por mim. Não vou deixar que o medo e a raiva atrapalhem a minha vida. Bastaram os dois longos anos que já perdi. Não vou abandonar a rua, meus hábitos, mudar para o Tibet, nem contratar um psicopata para guardar minha casa.

Não se vive sem correr riscos, por menor que eles sejam, disso eu sei. Não vou deixar que esse risco me impeça de viver. Por mais que eu me sinta insegura e indignada.

Nenhum comentário: