terça-feira, abril 03, 2007

Fraquezas ou Franquezas?

"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - Nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro...

Há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas.

Você já viu como um touro castrado se transforma em boi? Assim fiquei eu...Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força.

Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão!!

Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma".

Clarice Lispector

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Clarice, para variar, me dando muitas respostas para o que tenho questionado ultimamente. Pode ser um defeito enorme o meu excesso de franqueza, como também pode ser encarado como uma qualidade ímpar. Essa coisa de não conseguir segurar para mim o que eu penso, de ter que colocar pra fora o que estava guardadinho até então e de ter que deixar sempre tudo muito claro, para quem quiser ouvir assusta. Para quem não quiser ouvir também...

Eu sou assim. Sempre fui assim. Isso faz parte de mim desde pequena, e não posso simplesmente me moldar de uma hora para outra. Nem quero... É claro que me causa alguns problemas, mas não posso criar um personagem em cima do que não sou... Tento apenas não me expor. Ou tento expor o que sinto e penso para quem me conhece realmente. Tento. Apenas tento. Isso não quer dizer que consiga.

Se quiserem me conhecer, conheçam-me exatamente como sou... Com todos os meus defeitos e todas as minhas qualidades, mas sempre sincera, acima de tudo. Com os outros e principalmente, comigo mesma... Em qualquer situação, seja lá qual for.

Um comentário:

Beth Blue disse...

somos muito parecidas neste aspecto: eu costumo pecar pelo excesso de franqueza. mas o maior pecado pra mim é a falsidade, as coisas ditas pelas costas...e Clarice é tudo!