quinta-feira, abril 19, 2007

Mil Novecentos e Bolinha...

Volta e meia me recordo de algo que aconteceu há tempos e que se não ouvisse aquela determinada música, ou não passasse por aquele determinado lugar, vestisse aquela roupa, ou conversasse com minha vó, com meus pais, com meus tios, já não lembraria mais...

Daria um livro tudo o que vivi e que está tão presente na minha memória.

Meu luv acha estranho porque mal consegue se lembrar do que aconteceu há meia hora, mas eu lembro perfeitamente da minha infância e da minha adolescência. Não falo da infância dos 10 anos de idade... Me lembro de quando tinha três anos e sofri a queda da escada - quebrei o nariz e meu pai desmaiou, lembro de quando a minha irmã nasceu (eu ainda tinha cinco anos), lembro de todas as minhas festas de aniversário, de vários momentos na escola, do primeiro dente que caiu, das vezes que me escondi quando o farmacêutico chegava para me dar injeções... Que coisa doida de se lembrar!

Minha vó me conta tantas histórias da vida dela.... Do meu vô e de como ele escrevia bem, dos livros que publicou, e de todos os artigos nos jornais. Do meu pai, de todas as artes que ele fazia e de tudo o que aprontava quando moleque e quando adulto... Me conta da minha mãe, de como era deslumbrante e de como todos a admiravam ( e admiram até hoje! Me orgulho demais dela). Tudo se inverte, e hoje em dia, eu que me preocupo com meus velhinhos!

Quando sento com a vovó, ela me remete à tantas lembranças boas...... Das roupinhas que eu usava, do jeito que eu falava, o que eu gostava de comer. Das festas que ela preparava para comemoração do Cosme e Damião, onde todas as crianças da rua iam para a casa dela comer todas aquelas guloseimas! Das saídas com meu pai na night, e em como eu me sentia "a" adolescente aos oito anos. Lembro-me da mamãe indo para o trabalho depois que me deixava no ônibus do colégio, e saía penteando os cabelos pela rua... Mesmo assim, continuavam lindos e parecia que ela tinha saído do salão...

Que eu tinha TODAS as dificuldades em dar estrela na aula de educação física.... Para quê na minha vida, eu usaria aquilo? Até hoje não sei... Aprendi a ler em casa, com três anos e pulei os jardins de infância. Aos quatro fiz o CA no colégio. Não tem como esquecer a coleção de livros com histórias infantis e contos de fadas, com capa dura, e ilustrada... Lembro de cada um dos contos e de todas as vezes que mamãe leu para mim antes de dormir.

Fiz um texto na segunda série, aos seis anos, que na época se chamava "redação". Escrevi sobre uma estante lotada de livros. Nela tinham dois especiais: um de capa vermelha e um de capa verde. O de capa vermelha tinha histórias de bruxas e monstros que saiam do livro e ninguém queria lê-lo. Por isso, ele era sempre fechado logo no começo da história e ficava num canto da tal estante. Lembro-me como se fosse ontem.

Já o livro verde era diferente. À cada leitura das páginas, nos encontrávamos num mundo mágico, onde os rios eram de chocolate e nas árvores, além de frutas, você poderia colher jujubas. Coisas de crianças... A minha redação deu umas 3 ou 4 páginas e a diretora chamou meus pais na escola. Disse que nunca tinha visto aquilo, que nem os alunos da 7° série escreviam coisas como eu escrevi, e que eu era uma criança especial, que deveria fazer um curso de redação e de teatro. Que deveria aproveitar o meu "talento". Eu hein...

Ainda lembro da folha em que eu escrevi. Era branca, manchada de roxo, mimiografada, com cheiro de álcool. Tinha até ajudado a professora a rodar na máquina. Eu também fazia cartões de natal personalizados. Eles não eram comercializados, eram só pros amiguinhos e para a família. Cortava a cartolina, desenhava, pintava e enfeitava com purpurina, lantejoulas e todos aqueles enfeites coloridos. Ficava feliz da vida! Minha tia guarda até hoje, a minha vela torta desenhada. E eu lembro do dia que eu fiz!

Algumas músicas, algumas datas especiais e algumas épocas me fazem lembrar de uma porção de coisas do gênero e me emociono. Choro, e choro muito. Sabe-se-lá-o-por-quê. Sou "manteiga derretida" e nem aos 30 anos, aprendi a administrar a emoção quando as lembranças vêm à tona. Ainda hei de aprender! Ou não!

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