sexta-feira, janeiro 12, 2007

O poetinha e a felicidade!

No natal, um amigo me deu de presente o DVD de um filme que não assisti no cinema - Vinícius - de Miguel Faria Jr. Como fã incondicional do Vinícius de Moraes, achei bom documentario, interessante mesmo, onde a narrativa biográfica acaba se mesclando com a verve do biografado... Tudo bem, sou suspeita, e bem suspeita, para falar sobre algo relacionado ao Vinícius de Moraes.

Fiquei muito feliz com o presente e o mostrei a outros amigos e prá quem mais quisesse ver.

Feliz.... Feliz?? Não sei bem se essa palavra cabe ao que senti depois de assistir ao filme... Confesso que ampliou o conceito que eu mesma tinha sobre a palavra "felicidade" após assisti-lo.

Entendi que o Vinicius não foi feliz. Passava a vida correndo atrás da felicidade, casou-se nove vezes, experimentou grandes paixões, criou coisas maravilhosas, desapegou-se delas, mergulhou na bebida para diminuir o silêncio interior que parecia doer-lhe muito.

Caiu, levantou-se, e num certo momento acabou dizendo: "é melhor viver do que ser feliz". Um tradutor americano não entendeu essa frase, e trocou por " é melhor viver e ser feliz"...

As duas frases traduziam muito a autenticidade do poeta, que se negava a acomodar-se dentro de uma felicidade inventada, alcançada, pronta. Era melhor viver na tentativa de alcançar do que alcançar propriamente. A viagem está mais no caminho percorrido, do que no destino. O sonho, uma vez realizado, já não é tudo aquilo que esperávamos dele. Procede...

Sábio!!! Há grande sabedoria nesse questionamento. E ao contrário do que parece, nenhuma incoerência com outra de suas máximas: " É melhor ser alegre que ser triste". As duas afirmações são verdadeiras. Visto nessa frase curtinha de Vinícius, "felicidade" seria um conceito bem distante da meta que hoje parece banal, a ponto de haver quem queira ensinar ( ou pior, aprender) a alcançá-la com um cursinho rápido ou uma pequena pílula milagrosa.

Tanto faz se a explicação vem da psicologia, da biologia, ou da religião... Os estados da felicidade são tão efêmeros quanto bolhinhas de sabão. Não há como entendê-los sem o contrário - a infelicidade - cuja causa única, é a esperança, que vem sempre acompanhada do temor de que "aquilo" não se realize.

É melhor viver que ser feliz, dizia o poeta, apostando na expectativa que sabia, cedo ou tarde seria frustrada. Felicidade tem mais a ver com a sabedoria de não esperar nada. De bastar-se a si mesmo, de não entregar-se à expectativa que nos desvia do presente e não nos entrega o futuro. No entanto, todos queremos ser felizes.

Talvez o segredo da felicidade esteja justamente em não ansiar por ela. Em não vê-la como algo a se conquistar.

Felicidade pode ser o contrário de satisfazer seus desejos. Pode ser evitá-los, como dizia o Buda. Talvez não esteja no fim de uma busca para si próprio, mas na busca da felicidade para o outro, como ensinava Confúncio. Talvez feliz seja apenas o sábio que nada espera.

Não penso naquele que se entrega ao desespero... Mas naquele que, vendo na felicidade a satisfação de um desejo, e que desejo é a busca do que nos falta, pode até realizar essa busca, sem a ilusão de que, uma vez satisfeito, atingirá um estado permanente de felicidade. Não é ser feliz enquanto se vê uma diferença entre a própria vida cotidiana e a felicidade.

Se bem entendi Vinicius, feliz é quem não deseja ser feliz. Salve o poeta!

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